Dizem que escrever é um hábito que vem de menino, mas há quem tenha outros hábitos, que não a escrita. Diria que é mais uma inclinação natural, que um hábito propriamente dito. No meu caso, foi a escrita que mais me despertou a atenção, talvez porque sempre tive uma relação difícil com as matemáticas e químicas, difíceis de entender. Preferia garatujar uma redação, a ter de fazer contas de somar ou dividir.
E foi exatamente por isso, que cedo comecei a escrever pequenas histórias que, de uma forma geral, agradavam aos meus amigos, que pediam mais. Exigentes, começaram a pedir histórias aos quadradinhos, muito vulgares naquela época. Eram outros tempos, em que o improviso tinha de compensar a falta de meios e de dinheiro.
Um dia, decidi que havia de fazer um filme com os meus próprios recursos. Teria mais ou menos oito anos e muitos sonhos e aspirações pela frente. Os meus amigos da altura, de quem perdi o rasto até ao dia de hoje, estavam fartos de pequenas histórias de aventuras. Queriam um pouco mais, já que ainda não tínhamos idade para entrar no cinema. Queriam ver um filme, mas projetado na parede, como se fosse no cinema. Uma exigência difícil de satisfazer naqueles tempos, mas que espicaçava a minha curiosidade.